Vista pelo avesso

28/09/2009

Cansada, sozinha e sem tempo...


É assim que eu me sinto. Sinto-me cansada, esgotada a nível físico e psicológico. Sinto-me sozinha, muito sozinha. Preciso do meu momento para poder chorar e ainda não tive tempo!
Preciso de chorar e deitar cá para fora o que sinto, e não tenho tempo, nem posso. Aparentemente tenho que ter paciência e força...

24/09/2009

Lágrimas de sangue...


Terça-feira, foi um dos dias mais tristes da minha vida! Infelizmente sei que muitos mais virão...

Chorei lágrimas de sangue e continuo a chorar...

Começaram por dizer-me que a minha mãe tinha morrido e o chão fugiu-me debaixo dos pés. Mas não parou...eu não acreditei que a minha mãe tinha morrido, levaram-nos para uma sala para esperarmos pela psicóloga, apoio psicológico não existe não acreditem nisso, ainda assim eu não estava a acreditar. Pedi para ver a minha mãe, perguntaram-me se eu aguentava, tinha que ser, tinha que aguentar, tinha que ver com os meus olhos. Trouxeram-na enrolada em panos brancos, quando a destaparam e eu me pude chegar a ela e vi a minha mão de olhos fechados, o chão fugiu novamente, dei-lhe um beijo, o último ainda estava quente.

Depois foi o voltar a casa, o chegar a casa e dar a noticia aos pais... não é possível descrever por palavras o que senti. Mas foi o inicio de um novo momento de um dia que não tinha fim, porque o fim já tinha acontecido, a minha mãe já estava morta. Tive que assinar os papeis, escolher o caixão, suplicar que a minha mão não fosse esquartejada em cima de uma pedra fria... mas não consegui nada, a juíza foi inflexível. Graças à ajuda de amigos todo o processo foi acelerado. Depois tive que escolher a roupa para ela levar, foi uma que ela adorava! e ao fim do dia a minha estava de volta para nós!

Fomos para a casa mortuária, o caixão chegou, não consegui olhar para ele fechado!

Chegamos lá dentro e lá estava o caixão aberto e com a minha mãe dentro! A família, os amigos e os vizinhos começaram a chegar...é bom saber que existem pessoas que gostam de nós e que estão connosco, a todos um muito obrigado, aos que estiveram fisicamente e aqueles que mandaram mensagens!

Voltamos para casa e ela não estava! Tentamos descansar, mas não conseguimos, às seis da manhã senti a porta da rua a abrir, era o meu pai que estava já vestido e pronto para ir para lá sozinho. Eram seis e um quarto e lá estávamos os dois sozinhos na casa mortuária ao lado da da minha mãe, a minha mãe que segundo o meu pai estava linda, eu nunca mais consegui olhar para ela.

Mais uma vez a família e amigos começaram a chegar, a cada um que chegava a dor aumentava, e com o sórdido comportamento de levantar o véu da cara da minha mãe, ninguém se apercebeu que sempre que eu estava lá dentro e faziam isso eu tapava os olhos e saía a correr! Eu a determinado momento quando estava na rua, dei por mim rodar a cabeça e chamar pela minha mãe para comentar uma parvoíce qualquer com ela,e dei-me depois conta que era ela que estava lá dentro!

E o tempo também estava a passar e como dói! O padre chegou, a cerimónia religiosa também, estive o tempo todo ali, mas os meus olhos e pensamento estavam naquele corpo que ali estava. Começaram as pessoas a sair para a rua para seguirmos para o cemitério. Pedi um momento a sós com a minha mãe! Não queriam deixar, tive que gritar para os pôr na rua, sei que estavam preocupados comigo, mas eu precisava daquele momento a sós, precisava de estar com ela, falar com ela em corpo presente por uma ultima vez e ninguém compreendia, mas consegui, embora a minha irmã de coração (só não é de sangue) tenha que ter montado guarda à porta, enfim... Falei, chorei, fiz-lhe promessas e despedi-me dela, tivemos o nosso momento como mãe e filha! não consegui ver o caixão a ser fechado e fui-me embora, peguei no carro para ir para o cemitério queria chegar primeiro que a minha mãe, mais uma vez não queriam que eu fosse a conduzir e sozinha, vá deixei alguém vir comigo para não ficarem todos com o coração na mão!

Cheguei lá, a minha mãe chegou um pouco depois, entramos no cemitério, seguimos o carro, depois o padre ainda rezou algo que eu nem ouvi. O caixão estava fechado à minha frente, mas não era a minha mãe que ali estava, não sei quem era mas a minha mãe não era, nem quando puseram o caixão na campa, não era a minha mãe que estava lá dentro.

Voltar a casa foi novamente um tormento para todos, o meu pai inconsolável, os meus avós desfeitos...

Ela não sofreu... mas para o resto... os meus avós viram a filha morrer, a minha irmã viu a mãe morrer e o meu pai, o meu pai morreu-lhe nos braços, a amiga, a companheira e o grande amor da vida dele, ali naquele quintal à porta de casa.

Morreu, acabou, perdi a minha mãe...